"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico."
Nelson Falcão Rodrigues Recife, 23 de agosto de 1912 - Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980
"Alguém dirá que A Vida Como Ela é… insiste na tristeza e na abjeção. Talvez, e daí? O homem é triste e repito:
– Triste do berço ao túmulo, triste da primeira à última lágrima. Nada soa mais falso do que a alegria. Rir num mundo miserável como o nosso é o mesmo que, em pleno velório, acender um cigarro na chama de um círio. Pode-se dizer ainda que é triste A Vida Como Ela é…
– Porque o homem morre. Que importa tudo o mais, se a morte nos espera em qualquer esquina? Convém não esquecer que o homem é, ao mesmo tempo, o seu próprio cadáver. Hora após hora, dia após dia, ele amadurece para morrer. Há gêneros alegres, eu sei. Fala-se em “teatro para fazer rir”. Mas uma peça que tenha essa destinação específica é tão absurda, obscena, como o seria uma missa cômica. Agora o aspecto da sordidez. Nas abjeções humanas, há ainda a marca da morte. Sim, o homem é sórdido porque morre. No seu ressentimento contra a morte, faz a própria vida com excremento e sangue."
TENTE MANTER O SEXO PRÓXIMO DO AMOR
O sexo, na obra de Nelson Rodrigues, é geralmente ponto de partida de tragédia. “O sexo nunca fez um santo. O sexo só faz canalhas”, escreveu. Mas, em 1967, já havia mostrado uma saída para o canalha: “Tudo é falta de amor. [...] As lesões do sentimento, a crueldade. Tudo, tudo falta de amor. [...] E sempre há os que apodrecem em vida porque separaram o sexo e o amor. A toda hora esbarramos com sujeitos que praticam a variedade sexual. Esses vão morrer na mais fria, lívida, espantosa solidão”. Para evitar que o sexo o transforme num personagem rodrigueano, é só se esforçar para não o separar do amor. Não é fácil, mas só há vantagem em perder a pecha de canalha. Ser Para Sempre Fiel… está na coletânea de crônicas O Óbvio Ululante (Agir, fora de catálogo, mas facilmente encontrado em sebos).
NUNCA COLOQUE EM XEQUE A FIDELIDADE DA MULHER DO SEU AMIGO
Nelson Rodrigues fez questão de mostrar que a delação de uma traição só acaba em tragédia para quem dá o alerta. Em Amigo de Infância, um personagem suspeita da infidelidade da mulher de um amigo e corre a alertar o suposto corno. Quando descobre que a desconfiança tinha fundamento, o corno de fato dá três tiros no cara que só queria que o amigo “não bancasse o palhaço”. Amigo de Infância está na coletânea de contos A Vida Como Ela É (Agir)
AO ANTEVER UMA DISCUSSÃO COM A MULHER, SAIA PELA TANGENTE
É melhor ficar calado do que testar a veracidade dessa máxima de Nelson Rodrigues: “É de fato num bate-boca que nasce na mulher a vontade de trair. Na seguinte discussão, o adultério toma a forma de uma utopia reparadora. [...] Os bate-bocas não passam, e repito: os bate-bocas ficam enterrados, na carne e na alma, como sapos de macumba”. (Da coletânea O Óbvio Ululante).
UM ALERTA SOBRE O CASAMENTO…
“Só um débil mental pode casar-se na presunção de que o casamento é divertido, variado ou simplesmente tolerável. É divertido como um túmulo.” Em Asfalto Selvagem (Agir)