...“Sexo é um intercâmbio de líquidos, de fluidos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen, merda, suor, micróbios, bactérias. Ou não é. Se é só ternura e espiritualidade etérea, se reduz a uma paródia estéril do que poderia ser. Nada!!” Pedro Juan Gutierrez - Trilogia Suja de Havana
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2.8.23

BELLOCQ E AS PROSTITUTAS DE STORYVILLE


O ano era 1912, quando o celebrado fotógrafo americano John Ernest Joseph Bellocq viajou até Storyville não a prazer, mas à trabalho, para fotografar o dia-a-dia das profissionais do sexo no começo do século XX - As prostitutas do distrito da luz vermelha de Nova Orleans, Louisiana.

Essa série de fotos secretas de Bellocq que retratam o cotidiano de mulheres gordinhas, algumas nuas, outras vestidas, posando e representando uma narrativa misteriosa. 

Algumas dessas mulheres parecem desconfortáveis nas fotos, não porque estão nuas, mas provavelmente porque não têm ideia de como posar na frente de uma câmera. Outras parecem muito confortáveis, relaxadas, posando com uma graça inocente. As fotos refletem o padrão das mulheres da época, vestidas com roupas do século XIX, elas têm um charme do velho mundo. As fotografias tornam-se ainda mais intrigantes pelos detalhes que revelam sobre as condições de vida no interior destas casas “especializadas”. 

Algumas fotos foram gravemente danificados - rostos foram raspados ou pelo seu irmão, padre jesuíta que os herdou após a morte de EJ, ou pelo proprio Bellocq já que o dano foi causado enquanto a emulsão ainda estava úmida. 

Essas fotos não foram publicadas pelo autor, elas foram descobertas anos depois de sua morte, em 1949, escondidas em uma pasta empoeirada dentro do porão da sua antiga casa. O responsável pela descoberta foi o também fotógrafo Lee Friedlander, que editou o livro de 1974 Storyville, New Orleans: Being an Authentic, Illustrated Account of the Notorious Red-Light District, de Al Rose, oferece uma visão geral da história da prostituição em Nova Orleans.


















Ernest Joseph Bellocq (1873–3 de outubro de 1949) nasceu em Nova Orleans e começou sua carreira fotográfica, primeiro como fotógrafo amador e depois profissional, fotografando principalmente navios e máquinas para empresas locais da região. Bellocq não era um “artista” pretensioso, seu trabalho é muito informal, quase antiartístico.



18.2.23

A VANGUARDA DA GENITÁLIA DESNUDA


Enoli Lara, (@enolilarareal)
modelo, atriz, cantora, escultora, escritora, palestrante, símbolo sexual, libertária, positivista, epicurista, mística e erótica! A primeira genitália desnuda do carnaval.

Já era madrugada de 6 de fevereiro de 1989 quando a União da Ilha do Governador, escola de samba do Rio, ingressou na Sapucaí para apresentar o enredo Festa Profana, que narrava orgias da antiguidade e a origem do carnaval. Os 90 minutos do desfile da Ilha incluía Enoli Lara, nascida em Porto Alegre, atriz e ex-modelo, o "bumbum de Ipanema", que neste dia fez história na Marquês de Sapucaí. Aos 39 anos, a "bunda pensante" - apelido dado pela atriz Tônia Carrero a Enoli - se exibiu sobre um carro alegórico completamente nua, ou quase: vestia um adereço de cabeça, sandálias e um véu, ao longo do desfile, Enoli abria o véu e simulava relações sexuais.

"Fui pioneira, não há como falar sobre nudez no carnaval do Rio sem citar meu nome", diverte-se Enoli. 

"Fui convidada pelo carnavalesco Ney Ayan para ser destaque, sobre um carro alegórico que imitava um templo, representando Afrodite, a deusa do Amor. Ele não fez nenhuma restrição quanto à fantasia. Escolhi peças lindas, uma cabeça em crinol preto com strass aurora boreal, o véu e as sandálias, e até pensei em usar tapa-sexo, mas achei desnecessário", conta Enoli, hoje com 73 anos.

Enoli confessou também que seu namorado da época, o jogador de futebol Paulo Roberto Falcão, a motivou a sair sem roupa no desfile. "Naquela tarde toda de Carnaval eu fiquei namorando o Falcão, o 'Rei de Roma'. Disse para ele que iria sair sem calcinha e que ele iria jogar champanhe do camarote. Ele não acreditou que eu faria aquilo. Quando adentrei no setor 1, ninguém esperava. Incorporei Afrodite e fiz movimentos de cópula. Me senti plena a mais de 10 metros de altura. Sou eternamente grata", relembra.

O desfile de 1989 não foi o primeiro de Enoli. Um ano antes ela já havia causado furor na Sapucaí. "Em 1988 a União da Ilha iria homenagear o compositor flamenguista Ary Barroso e havia uma ala só com jogadores e dirigentes do Flamengo. Eu fui convidada para desfilar com eles, como rainha do clube. A escola não tinha dinheiro e me deu apenas um cocar vermelho. Pensaram que eu desfilaria com a camisa rubro-negra, mas decidi pintar o corpo com labaredas vermelhas e pretas que partiam da região genital", narra.

"Um amigo artista plástico me pintou lá mesmo, embaixo do balança-mas-não cai (prédio emblemático, de quase 200 apartamentos, nas vizinhanças da Sapucaí), cercada por um cordão de policiais, para me proteger do assédio do povo." 

Na avenida, ela saiu junto com os jogadores: "Tava todo mundo bem alto, porque deram de brinde uma cachacinha na concentração", lembra. Lá pelo meio do desfile, tomado por um desejo coletivo incontrolável, o time se juntou em torno de Enoli, como se ela fosse um técnico no campo, e passou a boliná-la por todos os lados: "O Renato (Gaúcho) abocanhou meus seios, e tinha mãos atrás, na frente, línguas, dedos... Os seguranças tiveram de me tirar dali, porque eu não conseguia mais desfilar."

Com receio de que a nudez total virasse rotina, a Liga decidiu proibir que os foliões desfilassem "com a genitália à mostra". Crítico da medida, o carnavalesco Joãosinho Trinta, então na Beija-Flor, decidiu levar à Sapucaí no ano seguinte o enredo todo mundo nasceu nu. O ator Jorge Lafond, famoso homossexual que interpretou, entre outros, o personagem Vera Verão, desfilou em um carro alegórico com o corpo coberto apenas por purpurina.

O alvoroço causado por Enoli no desfile levou a Liga das Escolas de Samba do Rio a proibir o nu total. Desde 1990, folião que desfila nu causa a perda de meio ponto à escola que representa.

Fonte: O Estado de S.Paulo, Extra, G1,